segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Após "Gaijin", Tizuka Yamasaki temeu rótulo da imigração

A cineasta Tizuka Yamasaki, 59, afirmou ter temido rótulos após o sucesso de "Gaijin - Os Caminhos da Liberdade" (1980). "Recebi diversos convites na época para filmar temas relativos à imigração, à história dos japoneses no Brasil, mas então quis ir por outros caminhos e só voltei para fazer 'Gaijin 2 - Ama-me Como Sou' [2004] quando não havia mais este risco", disse Yamasaki, cuja história de sua família inspirou o primeiro filme.

Segundo Yamasaki, sua ida para Brasília para estudar na juventude foi, em parte, muito responsável para a realização do primeiro Gaijin. "Eu morava em São Paulo, que tem uma comunidade nikkei bastante forte, você vê japoneses na rua, faz parte do cotidiano do paulistano", disse a diretora.

Em Brasília, ela afirma que havia apenas outra nikkei, chamada Nelci, e que eram confundidas a todo momento. Isto despertou na cineasta a atenção para a variedade de culturas que o Brasil abrigava e também para sua própria identidade. Ela acabou se interessando pelo Nordeste e foi até a região de carona.

Ao pesquisar mais sobre imigração no Brasil, Yamasaki diz ter se deparado com um vácuo na história dos imigrantes.

"Aí fui desenvolvendo mais essa idéia e decidi que meu primeiro filme seria sobre a comunidade. A primeira idéia foi até um documentário, mas aí se tornou uma ficção que foi inspirada na história da minha avó, não é exatamente a dela, mas foi a inspiração", afirmou a cineasta.

Inicialmente, Yamasaki ainda pensou em fazer uma trilogia. "Eu queria a chegada dos imigrantes, a Segunda Guerra Mundial e o Brasil contemporâneo. Aí o processo de realização do primeiro filme foi muito pesado, porque é histórico, de época, caro para quem estava começando", disse a diretora, que conta ter lutado contra resistência à idéia.

Yamasaki afirmou que o poder de síntese da cultura japonesa é algo que mais carrega e que a influenciou em sua atividade. "O cinema é muito parecido com a cultura japonesa no poder de síntese dos assuntos e cresce no confronto das emoções", disse a diretora.

Em relação ao contato com o cinema japonês, a diretora conta que em Atibaia, assim como em diversas cidades com forte presença japonesa e nikkei, havia um caminhão que aparecia aos sábados e projetava dois longas.

"Os bancos eram caixotes e assistíamos aos filmes em uma situação muito incômoda, com todo o barulho do projetor, a tela era um lençol. Eu, como era pequena ficava sempre sentada no beiral de uma janela para poder ter altura para assistir ao filme. Anos depois eu fui identificar que vi muito filme bacana", disse Yamasaki.

"Isso foi nos anos 50, 60, já nos 70, o cine Atibaia começou a dedicar uma sessão semanal aos filmes japoneses até que parou", afirmou a diretora.

"Na verdade, eu tenho uma curiosidade pelo cinema japonês porque é uma cultura que está na minha intimidade, mas eu me identifico muito mais com o brasileiro", disse Yamasaki.

O envolvimento de Tizuka com o cinema acabou levando a irmã, Yurika, a também trabalhar na atividade.

"Eu acho que sou tão brasileira quanto você, quanto qualquer outro. Que essa história da imigração está lá no passado, eu vou lá comemoro, mas eu não tenho essa emoção que os imigrantes têm", disse a diretora ao contar um episódio emocionante com Kokei Uehara, presidente da Associação para Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.

"Acho que tem que comemorar, dar visibilidade para um povo que veio aqui deu valor, ajudou a construir o país e está retribuindo a boa acolhida. Essa coisa de imigração é muito complicada, porque é coisa de governo, de um que está precisando de mão de obra. Não há uma preparação cultural, até hoje em dia é assim, porque ninguém dá importância à cultura. Você vai lidar com crenças diferentes, desejos diferentes, o olhar de segregação é muito forte. E a segregação existe onde há ignorância", afirmou Yamasaki.

folha: folha online / uol cinema