quinta-feira, 10 de abril de 2008

Estréias da Semana no Cinema Brasileiro (11/04)

A Vida Começa aos 40 (2006)

Elisabeth, 40 anos de idade e recém-divorciada, frequenta todo final de semana o animado Heartbreak Hotel. A história de amizade entre Elisabeth e Gudrun, duas mulheres na casa dos 40 anos que redescobrem os prazeres da vida.
(Heartbreak Hotel) Suécia, 2006. Direção: Colin Nutley. Elenco: Helena Bergström, Maria Lundqvist, Claes Mansson. Duração: 100 min.

Estômago (2007)

É sintomático o fato de Estômago ser uma co-produção Brasil-Itália. Em seus momentos mais rasgados a comédia tem a pegada das sátiras italianas dos anos 70, e há cenas de sexo, janta e carniceria no longa de estréia do diretor curitibano Marcos Jorge que são puro Marco Ferreri. João Miguel interpreta Raimundo Nonato, cozinheiro que vai parar na cadeia e ali aprende que o homem que manja de fogão tem um poder todo particular. Esse talento ele conquistou aos poucos, desde que saiu da Paraíba rumo ao sul do país, primeiro em um boteco fritando coxinhas, depois nas panelas eruditas de um restaurante italiano. Ficamos sabendo no vaivém de flashbacks do filme como Nonato aprendeu a arte, mas demora a descobrirmos qual foi o crime que o botou na prisão. Ainda que a prostituta glutona por quem Nonato se apaixona, Íria (Fabiula Nascimento), pareça saída de A Comilança (1973), João Miguel não é um parlapatão típico italiano. O tipo acanhado do ator de Cinema, Aspirina e Urubus - tipo esse que deu a João Miguel o prêmio de melhor ator por Estômago no Festival do Rio - é muito mais complexo. Com seus olhos pequenos e curiosos, o ator vai de ente benévolo de fábula a maníaco do cutelo em um segundo. Deixar-se fitar pelo estranho João Miguel é um encanto e também um perigo. Segue valendo mais do que nunca a máxima do mais célebre pensador de gastronomia da história, Anthelme Brillat-Savarin, autor do livro A Fisiologia do Gosto, de 1825: "Diga-me o que comes e eu te direi quem és". O bandido iletrado que chama "carpaccio" de "carrapato" nunca deixará, por preconceito culinário, de ser um bandido iletrado, mas Nonato, que aprende a apreciar a boa mesa, muda como pessoa, particularmente na parte do filme-de-cadeia. E ele aprende a filtrar esse conhecimento e o transformá-lo em moeda de troca. Talvez não seja o caso de dizer que Nonato é o clássico herói sem caráter, um correlato culinário do Selton Mello de O Cheiro do Ralo. Há em suas ações um senso de ética bastante particular, como a ética da meretriz que não beija. Aético é o chefe que vende romeu-e-julieta a oito reais... Nonato está mais para anti-herói incompreendido mesmo, como no filmes italianos setentistas que se travestiam de comédia para falar de inconformismo, e daí se explica a catarse que Estômago provoca no público. Nem tudo é perfeito no filme, mas conseguir dialogar com o público, por vezes empolgá-lo, é um feito e tanto para o debute de Marcos Jorge. Escorado na sempre competente fotografia de Toca Seabra, o diretor exagera no didatismo por vezes (o destino de Bujíu se adivinha já na concha de feijão...), mas ao fim deixa uma boa impressão - um bom retrogosto.

Fôlego (2007)
No memorável Casa Vazia, Kim Ki-Duk mostra um relacionamento silencioso e liberador entre dois indivíduos com problemas de adaptação. Em Primavera, verão, outono, inverno... e primavera, seu longa mais conhecido mundialmente, usa a passagem das estações para falar de maturidade. Tudo com uma roupagem zen. No novo trabalho, Fôlego (Soom, 2007), de certa forma Ki-Duk reúne todos os seus fascínios. Diferente dos outros, porém, neste o cineasta sul-coreano parece mais distante, mais preocupado em não interferir, idéia reforçada pela figura do diretor do presídio. O personagem aparece apenas através dos reflexos do monitor de segurança, no qual observa os protagonistas. Desconfio, aliás, que o próprio Ki-Duk "interprete" esse espectral diretor. No filme, Jang Jin (o taiwanês Chang Chen), condenado à morte, busca alguma espécie de controle em sua vida ao tentar suicidar-se na prisão. A notícia do ocorrido é assistida na televisão pela resignada Yeon (Park Ji-a), mãe de família que acompanha calada as traições do marido. Impulsivamente, ela vai até a prisão, onde consegue visitar Jin. Com ele, Yeon é capaz de falar, coisa que não faz em casa. Inicia-se assim um relacionamento em que cada visita é simbolizada por uma estação do ano - apesar de todo o filme se passar ao longo dos poucos dias antes da execução do condenado. É como se todo um ano fosse condensado no tempo. Como os dois filmes citados anteriormente, o diálogo inexiste em Fôlego. Toda a produção é realizada apenas através de monólogos e linguagem não-verbal. O Marido (Ha Jung-woo) fala com Yeon, que fala com Jin, que não fala com ninguém (o ator taiwanês nem conseguiria - ele não fala coreano). O resultado é terno e equilibra bem o humor (espere só para ver os "números musicais" de Yeon...) e a dramaticidade. A preocupação do cineasta com a fotografia, outra de suas marcas registradas, fica aqui a cargo de Seong Jong-mu, com quem ele trabalhou em Time - O Amor contra a Passagem do Tempo. Limpa e precisa, a direção alterna momentos de absoluta limpeza (o apartamento e a cela) com arroubos de cor e informação (a sala de visitas), algo especialmente explorado no metafórico final. O inverno, claro. Época de morte... mas que também abre possibilidade de renascimento.

Imagens do Além (2008)

Em "Imagens do Além", um casal recém-casado descobre assustadoras imagens de fantasmas nas fotografias que eles revelam depois de um trágico acidente. Temendo uma relação entre as manifestações, eles começam a investigar, mas acabam aprendendo que alguns mistérios não devem ser decifrados – e que um erro do passado pode acabar em uma vingança eterna. Para o fotógrafo Ben (Joshua Jackson) e sua esposa Jane (Rachael Taylor), é apenas uma lucrativa sessão de fotos em Tóquio em meio a sua lua-de- mel. Com uma exótica oportunidade profissional e todas as infinitas possibilidades da nova situação de casados, Ben e Jane chegam ao Japão. Mas, na estrada que leva ao Monte Fuji, a nova vida do casal literalmente sofre um trauma profundo. O carro deles atropela uma mulher que estava no meio da estrada, e que aparentemente surgiu do nada. À medida que retomam a consciência depois do acidente, Ben e Jane não encontram sinal algum da menina que Jane acredita ter atropelado com o carro. Abalados com o acidente e com o desaparecimento da menina, eles chegam a Tóquio, onde Ben começa seu trabalho glamouroso. Já tendo trabalhado no Japão e fluente no idioma, Ben sente-se à vontade lá, e encontra com antigos amigos e colegas de trabalho. Jane, nova na cidade, sente-se como uma estranha em uma terra estrangeira ao fazer desastradas incursões pela cidade. Enquanto isso, Ben descobre misteriosas manchas brancas – formando assustadoras silhuetas humanas – que se materializaram nas imagens após um dia inteiro de trabalho em uma cara sessão de fotos. As preocupações de Jane começam a aumentar quando ela passa a acreditar que as manchas nas fotografias de Ben são da menina da estrada, que agora quer vingar-se do casal por a terem deixado morrer...

Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor (2008)

No primeiro dia de aula, um trio de ansiosos calouros do ensino médio – o gordinho Ryan, o magrela Wade e o baixinho maria-vai-com-as-outras Emmit – torna-se alvo instantâneo do valentão da escola, Filkins. Vendo aquilo que esperavam ser o início dos melhores anos de suas vidas tornar-se um pesadelo, os garotos resolvem contratar um guarda-costas. É aí que entra em cena Drillbit Taylor. Ele não é o melhor dos matadores profissionais e seguranças a responder ao anúncio dos meninos, mas é o mais em conta. Drillbit é durão, perigoso e experiente em operações secretas e lutas marciais exóticas. Mas é também uma completa fraude. Ele engana o crédulo trio com seu treinamento absurdo e, depois de hilários equívocos, infunde nos garotos novas técnicas e a autoconfiança de que tanto necessitam. Mas, na hora da verdade, Drillbit não parece ser páreo para o terrível Filkins. Agora, Ryan, Wade e Emmit precisam transformar esse preguiçoso derrotado no salvador que ele originalmente prometeu ser. Extra: A história de "Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor" surgiu de uma colisão entre imaginações cômicas. Tudo começou com a idéia que o escritor e roteirista Edmond Dantes ("Esqueceram De Mim 2" e "Clube Dos Cinco") teve há mais de 20 anos, mas que nunca passou de um texto de 40 páginas. Recentemente, a história caiu nas mãos de um dos maiores produtores de comédias de hoje, Judd Apatow ("Superbad – É Hoje" e "Ligeiramente Grávidos"), que encarregou seu desenvolvimento ao ator, roteirista e produtor Seth Rogen e a Kristofor Brown, mais conhecido por ajudar a tornar Beavis & Butt-Head ícones da cultura pop.

Treinando o Papai (2007)

"Treinando o Papai" ("The Game Plan") conta a história do famoso e determinado quarterback Joe Kingman (Dwayne "The Rock" Johnson, de "Doom - A Porta do Inferno" e "Bem-vindo à Selva"), cuja equipe de Boston está em busca de um campeonato. Solteiro de carteirinha, Kingman vive uma grande fantasia: ele é rico, famoso e sua vida é uma festa constante. Mas este sonho é subitamente alterado quando ele conhece a filha de sete anos (a novata Madison Pettis, do seriado "The 4400") que ele nunca soube que existia – resultado de um último encontro com sua ex-esposa. Agora, no momento mais importante de sua carreira, ele tem que administrar festas e treinos com aulas de balé clássico, histórias antes de dormir e bonecas que vieram junto com sua filha. Igualmente perplexa está sua durona super empresária Stella (Kyra Sedgwick, do seriado "The Closer"), que não tem nada de maternal. Apesar da sempre hilária desventura que acompanha a paternidade recém-descoberta, Joe percebe que existem outras coisas na vida além do dinheiro, de campanhas publicitárias e de milhares de torcedores apaixonados: o amor e o carinho de uma pequena fã muito especial é a única coisa que importa.

Um Beijo Roubado (2007)

Com história centrada na vida de uma mulher interpretada pela cantora Norah Jones, estreando na função de atriz, "Um Beijo Roubado" mostra o caminho traçado por Elizabeth, que viaja através dos Estados Unidos procurando por respostas sobre o amor. Em seu percurso, ela vivencia situações que marcarão para sempre sua vida, e conhece pessoas que a farão perceber qual é o seu lugar no mundo. No elenco, um apóio forte para a iniciante é formado pelo grupo estrelar formado por Rachel Weisz (vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por "O Jardineiro Fiel"), Jude Law ("Closer - Perto Demais") e Natalie Portman ("V de Vingança"). Em época de sua produção, houveram rumores que apontavam para o fato de o longa-metragem ter ligação com eventos acontecidos após o desastre provocado pelo furacão Katrina, especulação prontamente negada pelo cineasta chinês Kar Wai Wong ("Amor à Flor da Pele"), que também assina o roteiro, em parceria com Lawrence Block. Com filmagens realizadas principalmente em em Nevada e Nova Iorque, a história foi bem recebida no Festival de Cannes, apesar de ter sido taxada por não superar expectativas. Desenvolvida para ser uma comédia romântica, a película teve seus direitos comprados pela Weinstein Co., que encarregou-se de distribuí-lo nos EUA e na Oceania. Quando questionado sobre o motivo de ter colocado uma novata no difícil papel de protagonizar seu longa-metragem, Wai Wong frisou sua crença no talento de Jones, garantindo que sua voz a fez querer trabalhar com ela. E chegou a dizer em uma entrevista em Cannes: "Para uma atriz que interpreta em um filme pela primeira vez era um desafio muito difícil. Eu vi sua evolução durante as filmagens, cada vez mais dentro do papel, cada vez mais atuando com desenvoltura".

Um Plano Brilhante (2007)

Demi Moore ("Proposta Indecente", "Ghost – Do Outro Lado da Vida") faz o papel de Laura Quinn, uma executiva dedicada, porém descontente, que trabalha na maior empresa de diamante da Londres de 1960. Ela sente-se extremamente frustrada por seu sucesso profissional na London Diamond (Lon Di) estar sendo impedido pelo fato de ser mulher. Ela, então, junta-se a Mr. Hobbs ("Batman Begins", "O Grande Truque"), um zelador amargurado que se sente traído depois de trabalhar a vida toda para a empresa. Juntos, eles planejam o crime perfeito: um roubo audacioso na firma que os menosprezou. EXTRAS: O produtor Michael Pierce conta que o roteiro de Edward Anderson torna o filme muito especial. “Eu fiquei completamente chocado pela originalidade dele”, se entusiasma. “Nesse trabalho, você lê centenas de roteiros, mas esse me chamou a atenção. Quando você lê um bom roteiro, você percebe na hora.” Outro fator que engrandece "Um Plano Brilhante" é a classe impecável do elenco. O produtor Mark Williams enfatiza o status de Michael Caine como uma lenda viva. “Ele tem uma longevidade assombrosa porque ele é muito bom. A maioria das estrelas de Hollywood não é capaz de migrar de um protagonista para um personagem mais incomum. O ego, o visual ou a habilidade sempre atrapalha. A questão em Hollywood é, como você consegue aparecer? Michael consegue isso com puro charme. Ele entende exatamente como os negócios funcionam e não se deixa levar pelo ego. Ele só aceita papéis que não pode recusar de jeito nenhum e isso mantém seus padrões muito altos.”

Um Sonho Dentro de um Sonho (2007)

O vencedor do Oscar Anthony Hopkins faz uma jornada no circuito independente como roteirista e diretor de "Um Sonho Dentro de Um Sonho". O projeto atraiu um elenco e equipe renomados, obtendo um total impressionante de 70 prêmios e honrarias respeitáveis e mais de 200 indicações. Rompendo as fronteiras entre ficção e fantasia, o longa fala sobre a implosão da mente humana. O filme se desdobra em um estilo onírico, não linear e consciente de narrativa com um conto surreal sobre a jornada de um homem. Felix Bonhoeffer (Hopkins) é um ator e roteirista que levou a vida em dois estados de existência: a realidade e seu mundo interior. Enquanto trabalha em um roteiro de suspense, Felix fica atordoado quando seus personagens começam a aparecer em sua vida; e sua vida começa a se misturar com a de seus personagens. Inconsciente de que seu cérebro está à beira de uma implosão, Bonhoeffer é lançado em um vórtice onde seus sonhos, tempo e realidade se chocam. Quando Felix entra em um redemoinho, ele logo descobre que a vida é mero acaso e o destino não tem visão. Entrevista: "'Um Sonho Dentro de Um Sonho' fala sobre a natureza da realidade e a ilusão da vida. O título significa tudo e nada", diz o escrito/diretor Anthony Hopkins. O filme tira muito de sua inspiração da cultura popular e eventos históricos recentes e, ao mesmo tempo, é totalmente original. Hopkins explica: “Sou fascinado pelo tempo e pela percepção dos eventos ao longo do tempo. A vida é tão parecida com uma ilusão, tão onírica, que acho que é tudo um sonho... um sonho dentro de outro sonho”.