sexta-feira, 13 de junho de 2008

FAM 2008 - quinta 12/06/08


Na penúltima noite da Mostra de Longas Convidados, nesta quinta-feira, o Teatro Ademir Rosa, no CIC, recebeu o filme chileno Microfilia, de Nehoc Davis. Mesclando ficção e documentário, o filme reconstrói, em formato de relato verídico, a história de um micro-ônibus, daí o título microfilia, dirigido por uma criança de 15 anos, numa pequena cidade do Chile.

Antes de tudo, Microfilia aproxima-se bastante do gênero cômico, seja através da estruturação do roteiro, baseado em piadas e gags, seja através das personagens em trânsito, todas donas de características bem definidas, quase caricaturas. Há os religiosos deliciados com a liberdade da cidade, há as garotas quentes cheias de caras e bocas, há a senhora excêntrica sempre com o cachorro nos braços, há os trabalhadores famintos por perspectivas e dinheiro, lutando pelo direito de um terno novo, há o casal de secundaristas namorado nos fundos: o compêndio de tipos torna clara a intenção do autor na escolha da comédia como opção de narrativa.
Microfilia, porém, consegue agregar certo contraste ao mesclar o caráter cômico à construção de uma história capaz de revelar algumas das impossibilidades do mundo. O micreiro, palavra utilizada para designar os motoristas, é, na verdade, uma menina de 15 anos, que aprendeu a dirigir com o pai, e que agora ensina o ofício à irmã de 9 anos, enquanto a mãe vende flores num sinal de trânsito. O aspecto social persegue os principais passos do roteiro: a imagem dos cachorros pelas ruas, recorrente no longa, aproxima ainda mais o ser humano da miséria.

As personagens transitam pelo ônibus sem intimidade; ao fim, porém, uma quase tragédia reafirma o caráter híbrido do enredo ao unificar cada uma das individualidades numa mesma experiência de perda, ou quase perda. O seqüestro do ônibus, decorrente da desonestidade de outro micreiro, o antagonista, colecionador de trapaças e atropelamentos, antecipa a resolução dos conflitos vividos na viagem, agora sob um viés mais trágico e menos cômico. A senhora excêntrica com o cachorro, por exemplo, reafirma a descrença com o contemporâneo, apenas insinuada até ali, ao se revelar numa triste profissão: negociante de cachorros atropelados.

fonte: site oficial FAM 2008