Em “O sonho de Cassandra”, que estreou nesta quarta (30), o cineasta nova-iorquino Woody Allen volta a fazer referência a um de seus temas preferidos: o livro “Crime e castigo”, do russo Fiodor Dostoievski. Ele já havia abordado o mesmo assunto em dois outros longa-metragens, “Crimes e Pecados”, de 1989, e “Ponto Final” (foto 1), de 2005. Todos narram as transformações que um homem sofre ao cometer um crime e como ele se recupera – ou não – após o incidente.
Fã da literatura russa, Allen parodiou diversas obras em um filme pouco conhecido: “A última noite de Boris Grushenko” (foto 2), em 1975. Mas não é só dos eslavos que ele retira suas idéias. Do teatro grego, principalmente das tragédias, o cineasta já fez, além deste “O sonho de Cassandra”, que remete ao mito que previa o futuro, mas em quem ninguém acreditava, ele já fez “Poderosa Afrodite”, de 1995, com Mira Sorvino, e o episódio “Édipo arrasado”, em 1989, no longa “Contos de Nova York”, feito a seis mãos com Francis Ford Coppola e Martin Scorsese.
Ainda no campo do teatro, Allen também já parodiou uma peça de William Shakespeare, com “Sonhos eróticos de uma noite de verão”, de 1982. Mas não é a só a ribalta que o cineasta gosta de desconstruir – e de ter como pano de fundo, como em “Tiros na Broadway”, de 1994.
Além de homenagear o cinema em “A rosa púrpura do Cairo”, de 1985, e fazer dois falsos documentários (“Zelig”, de 1983, e “Poucas e boas”, de 1999), durante a sua carreira, Allen relembrou os seus cineastas preferidos em diversos momentos de sua carreira. O italiano Federico Fellini é revisto em “Memórias”, de 1980, e o sueco Ingmar Bergman em vários filmes, entre eles os sérios “Interiores”, de 1978, “Setembro”, 1987, e “A outra”, de 1988, e a comédia “Desconstruindo Harry”, de 1997.
Mas é provavelmente a cidade de Nova York o “tema” mais constante das obras de Woody Allen. Desde “Noivo neurótico, noiva nervosa” (foto 3), de 1977, passando por “Manhattan” e sua declaração de amor explícita à cidade, até “Melinda e Melinda”, de 2004, são inúmeros filmes que retratam a vizinhança em que nasceu e viveu quase toda a vida.
A fase européia, que o levou a filmar na Inglaterra e Espanha - com “Ponto final”, 2005, “Scoop – o grande furo”, 2006, “O sonho de Cassandra”, 2007, e o ainda inédito “Vicky Cristina Barcelona” – é uma exceção na carreira do diretor.
Allen tem seu nome tão intimamente ligado ao da cidade que, em 2002, um ano após o ataque terrorista ao World Trade Center, foi convidado para homenagear Nova York na cerimônia do Oscar. O diretor, roteirista e ator, que já tinha preferido tocar com a sua banda de jazz (outro de seus temas preferidos) a receber a estatueta da academia, compareceu ao evento. E pediu para os produtores continuarem a filmar em sua cidade. Ironicamente ele mesmo rodou só mais duas produções na cidade até ir para o exílio. Mas, parece que ele está de volta.
fonte: globo.com