Assistir a um grande filme de um grande super-herói no cinema é indescritível. Agora, na minha opinião, sentar na sala escura e passar duas horas diante de cenas que acontecem no dia-a-dia, mas que evitamos saber, ou melhor, que fingimos não existir, é uma dádiva. Isso acontece com poucos filmes que tem nas salas uma chance de exibição.
DOWNLOADING NANCY, que tem sua estréia no festival de Sundance, é um destes filmes. Talvez ainda é cedo para dizer se ele vai ter sua história nos cinemas do Brasil. Mas é agora mesmo que devo dizer: é um filme necessário. Sem super-heróis, mas com gente real. Atores que mesmo atuando, falam tudo o que acontece, no seu bairro, na parede ao lado da sua. Que acontece comigo e contigo.
Temos no trailer Maria Bello (“Show Bar”), que deixa seu marido para conhecer Jason Patrick (“Velocidade Máxima 2”). Ao que parece, esse encontro foi arranjado via Internet. Mas isso não importa, pois o “Downloading” no nome, não refere-se a chats ou e-mails, mas ao arquivo chamado Nancy (e isso significa pessoas). Ela se encontra com Jason e pede: “Você pode me beijar delicadamente?”
DOWNLOADING NANCY é um filme. Mas é real. Nossa vida é todo dia filme. Não filmamos a nada que não casamentos e festas de aniversário. Mas se filmada, nossas vidas, todo dia assistidas, teriam outro sentido. Seria uma forma de tortura? Talvez sim. Talvez não. Mas é certo que não nos assistimos. E é essa a maravilha do cinema, de podermos nos identificar, com um retrato real, mesmo que subentendido como ficção.
Nossa vida é cinema. E por mais que desejamos passear no parque, é no movimento do corpo, seja ele qual for, que sentimos a força que possuímos. E isso é sempre amor. De uma vez por todas temos que entender que não existe destruição. Tudo o que fazemos é para encontrarmos amor. Talvez seja difícil de compreender, assistindo cacos de vidro sendo usados como ponte para tal tarefa. Mas é isso. O sangue escorrido não designa morte. É sangue, o mesmo que trafega por volta do nosso coração.
fonte: farelo na poltrona