terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Lúcia Murat apresenta adptação musical de "Romeu e Julieta" em Berlim


A brasileira Lúcia Murat apresentou na noite de segunda-feira, dentro da seção "Panorama" do Festival de Berlim, a versão musical e adaptada que fez do clássico "Romeu e Julieta", de Shakespeare.

"Maré - Nossa História de Amor", filme no qual os Montéquio e os Capuleto da famosa história são transformados em facções rivais da favela da Maré, no Rio de Janeiro, coroou um dia de filmes caracterizados pelo alto teor de violência, o qual começou com a exibição do polêmico "Tropa de Elite", um dos concorrentes ao Urso de Ouro do festival.

No filme de Murat, Analídia (Cristina Lago) e Jonatha (Vinícius D''Black) protagonizam um colorido drama no qual a escola de dança da favela se transforma em refúgio para um grupo de jovens ameaçados pela violência, as drogas, os conflitos e os constantes tiroteios que fazem parte de suas vidas.

Em entrevista à Agência Efe, a diretora do longa contou que, por questões de segurança, as filmagens tiveram que se revezar entre três favelas, e só uma pequena parte das cenas pôde ser filmada na Maré.

"Inclusive, nesses dias, foram registrados tiroteios ao nosso redor", contou Murat, que quis dar ao Brasil um musical, gênero pouco filmado no país, "que tem uma música e uma dança belíssimas".

No meio do caminho entre a realidade e a ficção, "Maré - Nossa História de Amor" recria a vida dura nas favelas brasileiras ao som de muito funk, hip-hop, rap, samba e dança contemporânea.

Com coreografias repletas de piruetas, até 200 dançarinos participaram do filme, muitos dos quais pertencem ao "mesmo ambiente" de seus personagens, algo que Murat acredita que contribuiu para a credibilidade da produção.

No filme, as cores vermelha e azul servem para identificar os dois bandos rivais da favela, que se enfrentam em bailes e trocam tiros em vielas escuras.

A estética urbana e marginal caracteriza o trágico romance vivido por Analídia, filha de um traficante da Maré, e Jonatha, o melhor amigo do chefe da facção rival.

Estes Romeu e Julieta dos tempos modernos não se casam, ao contrário dos míticos personagens do dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare (1564-1616), mas são sugados pela espiral de violência e brutalidade do conflito armado.

A dança experimental eleva os momentos de máxima tensão do filme, enquanto o samba e o hip-hop dão ritmo às cenas mais alegres da história, que tem no grupo de rap Nação Maré seu trio de trovadores, o qual, com sua rimas, resume os momentos críticos do drama.

"Temos de música clássica a funk. Queríamos misturar tudo e mostrar a capacidade que o Brasil tem de fundir", disse a produtora, que optou por não fazer um filme folclórico.

Durante as filmagens, que duraram apenas sete semanas, os dançarinos da Maré pararam a Linha Vermelha - uma das mais importantes vias do Rio de Janeiro - com suas coreografias, o que a diretora descreveu como uma "vitória simbólica", já que são os grupos de traficantes e assaltantes que costumam invadir a pista.

Com "Maré - Nossa História de Amor", Lúcia Murat, que nasceu em 1949, no Rio de Janeiro, e que já dirigiu filmes como "Quase Dois Irmãos", tenta desvincular os jovens de favelas da imagem de "pobres e violentos, sem nada a oferecer". Para ela, esses meninos e meninas "têm grande talento e muita energia".

fonte: EFE / terra