
Três personagens etéreos e obsessivos que se cruzam em uma cidade vazia, como cães errantes: São Paulo, a metrópole das multidões e do barulho, filmada como espaço deserto, é a verdadeira personagem de "Otávio e as letras", de Marcelo Masagão, longa-metragem exibido na competição oficial do Festival de Toulouse.
O filme, poético e fascinante, foi, no entanto, recebido de maneira fria em Toulouse, ao fim de uma exibição digital em alta definição que, por problemas técnicos, começou com mais de meia hora de atraso, o que provocou a desistência de parte do público.
"Otávio e as letras" mostra os encontros de três personagens. O primeiro é o Otávio do título, poeta que cola obsessivamente em sua sala recortes de jornais, fotos e cartazes díspares que lhe caem em mãos e deixa estranhos pacotes de papel, em modo de oferenda, pelos locais por onde passa.
A segunda é Clara, que se apaixona por pinturas e imagens e fotografa a intimidade dos vizinhos de maneira quase voyerista. O terceiro é um taxista gaiato, que fotografa sua cidade e faz um registro de cada rua e de cada canto da mesma.
Com uma montagem fragmentada, a câmera de Masagão acompanha os três personagens em suas obsessões e encontros, mostrando muito carinho pela paisagem urbana de São Paulo, vazia de seus habitantes, mas cuja presença simbólica se intui em cada edifício, em cada rua.
Marcelo Masagão, diretor do festival de curtas-metragens Minuto, já apresentou em Toulouse "Nós que aqui estamos por vós esperamos" (1999), e voltou em 2007, quando "Otávio e as letras" foi selecionado na iniciativa Cinema em Construção, destinada a ajudar a finalizar longas já filmados.
O filme é o segundo brasileiro em competição este ano, depois de "O grão", longa de estréia de Petrus Cariry, no qual uma estória contada por uma avó a seu neto é usada como parábola para a história da família.
Outro filme brasileiro compete na mostra Descoberta, dedicada às estréias de diretores, "Ainda orangotangos", de Gustavo Splidoro.
O cinema brasileiro é o convidado de honra desta edição do Festival de Toulouse, com direito a dois filmes em exibições especiais: "A pedra do reino", de Luiz Fernando Carvalho, filmado a princípio como minissérie para a televisão, e "Limite", lendária obra de Mário Peixoto, realizada em 1931 e restaurada após ser considerada desaparecida durante anos.
fonte: g1