Após impugnação, edital de longas de São Paulo tem novos vencedores

O júri do edital de longa-metragem de ficção da Secretaria Municipal de Cultura decidiu os novos filmes vencedores do concurso que vai destinar R$ 5,6 milhões a 12 projetos. A lista anterior, apresentada dia 14/06, foi impugnada após pressão de cineastas. Quatro projetos foram substituídos. Os novos vencedores foram divulgados oficialmente hoje (02/07) no Diário Oficial.

A primeira razão para a impugnação foi um possível conflito de interesses. Um dos membros do júri, Jean-Thomas Bernadini, dono da distribuidora Imovision, já havia fechado contrato de distribuição com dois projetos, antes mesmo de eles serem aprovados: “O Lixo Nosso de Cada Dia”, de Philipe Barcinski, e “Trabalhar Cansa”, primeiro longa da dupla Marco Dutra e Juliana Rojas (diretores do curta “Um Ramo").

Segundo Bernadini, a secretaria tinha conhecimento do contrato de distribuição dos dois filmes. O secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, confirma. “Ele não foi desonesto, a equipe da secretaria é que não percebeu”. Segundo o edital, “os membros da Comissão de Seleção não poderão ter quaisquer vínculos profissionais ou empresariais com as propostas apresentadas, ou de parentesco com os proponentes”.

O secretário admite “ser difícil” montar uma comissão selecionadora que não infrinja esse quesito. “Toda a classe cinematográfica é ligada. Tentamos mesclar pessoas de outras áreas para que isso não aconteça, pessoas que não sejam vinculadas ao grupo”.

Após a decisão da Secretaria de anular o resultado e à saída de Bernadini da comissão selecionadora, o júri realizou uma nova votação para definir os vencedores. “Os pontos atribuídos por ele na primeira lista foram cancelados. Na nova lista, apenas os outros membros votaram”, explica o escritor João Silvério Trevisan, membro do júri ao lado de Alcino Leite Neto, editor de Moda da Folha de S. Paulo, Carlos Magalhães, diretor da Cinemateca Brasileira, e Renata Palottini, poeta e presidente do júri.

Com a nova contagem, os dois projetos que já haviam fechado contrato com a Imovision se mantiveram entre os 12 escolhidos. “O Lixo Nosso de Cada Dia” vai receber R$ 600 mil, e “Trabalhar Cansa” R$ 500 mil.

Outro ponto que levou à impugnação do resultado foi a definição da exigência de os projetos terem “vínculos culturais com a cidade de São Paulo”. Quatro projetos saíram da lista: “Andar às Vozes”, de Eliane Caffé; “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de Vinicius G. Coimbra; “Cabeça à Prêmio”, de Marco Ricca; e “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”, de Beto Brant.

A definição de vínculo cultural já havia sido discutida antes da apresentação dos primeiros vencedores (14/06). “Tinha de ter ficado mais claro. Não foi uma definição fácil para o júri, levou a grande debate ao ponto de quase não chegarmos a uma unanimidade. No limite, poderíamos entender que o vínculo já estaria estabelecido caso a produtora fosse sediada em São Paulo”, afirma Trevisan.

Por fim, decidiu-se pelo critério geográfico: ou filmes rodados em São Paulo, com a história sendo ambientada na cidade, ou que boa parte da composição dos personagens esteja relacionada com o município.

No bojo das críticas, Trevisan ainda aponta para o orçamento dos filmes apresentados. “Vários dos projetos que o júri avaliou tinham o orçamento escandalosamente inflado. Havia diretor que ganharia mais que o presidente da República ou do STF (Supremo Tribunal Federal).

Ativo na literatura e com trabalho em cinema na década de 60 e 70, principalmente ao lado de João Batista Andrade, Trevisan crítica os altos valores. “Isso atravanca o mercado e a indústria do cinema no Brasil, que já não são solidificadas. Como um filme de R$ 7 milhões vai se pagar? Não generalizo, mas é algo a ser discutido”, propõe.

Confira os novos selecionados do edital de longa-metragem de ficção da Prefeitura Municipal de São Paulo: Filme - Valor (R$) - Produtora - Diretor

Hoje - 600 mil - Tangerina Ent. - Tata Amaral
O Lixo Nosso de Cada Dia - 600 mil - Pacto Audiov. - Philippe Barsinski
Luz nas Trevas, a re-volta de Luz Vermelha - 600 mil - Mercúrio Produções - Ícaro Martins
Mano - 500 mil - Gullane - Laís Bodanski
É Proibido Fumar - 500mil - África Filmes - Anna Muylaert
Abaixo a Ditadura ou os melhores anos de nossoas vidas - 500 mil - SP Filmes de São Paulo - Ugo Giorgetti
Identidade - 500 mil - Filme Mais Ltda - Tadeu Jungle
O Natimorto - Um Musical Silencioso - 500 mil - RT Comércio e Serviços de Criação e Produção - Paulo Macline
Reflexões de um Liquidificador - 300 mil - Brás Filmes Ltda - André Klotzel
Trabalhar Cansa - 500 mil - Dezenove Som e Imagem - Marco Dutra e Juliana Rojas
Galeria de Espelhos - 300 mil - Amílcar M. Claro Produções - Amílcar M. Claro
Aos Ventos que Virão - 300 mil - Lux XXI Cine Vídeo - Hermano Penna

fonte: revista de cinema