terça-feira, 27 de novembro de 2007

Paradise Now (Paradise Now, 2005)

O terceiro filme do diretor Hany Abu-Assad, o primeiro sendo o “Het 14e Kippetje” (1998) e o segundo “O Casamento de Rana” (2002) se tornando internacionalmente conhecido após ele, nos ajuda a desmistificar entre outras coisas essa visão errônea que alguns de nós ocidentais temos do povo que vive no Oriente Médio, pois na nossa imagem acreditamos que são pessoas frias, cruéis e egoístas, verdadeiros monstros terroristas e autoritários que estão “preparados” para qualquer atrocidade a qualquer momento.
Os personagens Said (Kais Nashif) e Khaled (Ali Suliman), ambos palestinos residindo na Cisjordânia, escolhidos para serem homens-bomba num ataque suicida, mostram durante o filme suas convicções e duvidas sobre a legitimidade da ação e sobre o fato de que vitimas inocente morrerão no atentado a Tel Aviv.
Said e Khaled são dois amigos e como é mostrado no inicio possuem umas vidas normais trabalham numa oficina mecânica onde são cobrados por um chefe exigente e tendo que lidar com os clientes impertinentes, nos intervalos conversam sobre assuntos normais para qualquer jovem, bebem chá e se drogam e Said ainda tem um flerte com uma cliente da oficina, Susha (Lubna Azabal) uma pacifista que viveu um tempo fora após a morte do pai, este um mártir, tudo aparentemente normal na vida normal dos amigos, até a visita de um amigo deles do grupo palestino extremista, informando que a vez deles chegou e eles terão mais uma noite para passarem cada um com sua família e se despedirem delas sem demonstrarem o que realmente fará no dia seguinte, nesta parte percebemos o carinho e conflitos que eles possuem em casa, famílias humildes que sofrem as conseqüências dos conflitos da região.
No dia seguinte são levados para serem “preparados” para o ato a que foram convocados, cortam os cabelos e barbas e ganham roupas para não chamarem a atenção como palestinos, no momento de gravarem os depoimentos , pois se tornarão mártires e terão suas fitas e fotos encontradas facilmente no mercado para que o povo os idolatrem, levam este momento com certa despretensão, fazendo piadas e poses com as armas em frente a filmadora, na verdade não conseguindo expressar-se com palavras que demonstrem sobre o porque de seus atos.
Ao chegarem à fronteira um imprevisto ocorre, separando os dois amigos, ambos neste momento com bombas escondidas pelos seus corpos, tentam encontrar-se antes que a situação fique fora de controle, agora ela avaliará suas convicções e rápido, enquanto estão circulando pela cidade ainda com as bombas pelo corpo se vêem perdidos, indefesos e não mais com a certeza que demonstravam ter no inicio, Khaled encontra Susha, a pacifista que tem um affair com Said, ambos tentam desesperadamente encontrá-lo, e quando os três estão reunidos Susha tenta convencê-los, pois a atitude tomada por eles não é a melhor maneira de mostrar ao mundo o que esta acontecendo e nem de resolver os problemas, ela conseguira convencê-los? , será tarde demais para eles desistirem? , será que eles querem desistir? .
Os dois protagonistas possuem vários conflitos internos, pois alem de terem como motivação a vingança pela ocupação israelense na Cisjordânia, há a recompensa divina, eles receberão após o ato suicida que irão realizar algo muito respeitado pelos palestinos, eles também tem motivos particulares, como o fato de um deles, Khaled, ter o pai trabalhado como espião de Israel, mas existe o outro lado, a duvida, e o filme mostra a duvida que qualquer ser humano tenha quando chega o momento de decidir se devem levar adiante seus ideais independentes das conseqüências que ela ira trazer a ele, as pessoas próximas a ele e ao resto do mundo, pois serão responsáveis pelo ato final, se tornarão mártires, serão conhecidos e acreditam que também ajudarão seu povo há viver um dia num mundo melhor.
Podemos não concordar com seus atos, mas temos pelo menos que tentar entender seus motivos, o porquê fazem e como eles querem que eles reflitam aos olhos do mundo, pois “eles não tem nada a perder se sua existência nada lhe traz de promissor”.
O diretor, um palestino radicado na Holanda com participação no roteiro ao lado de Bero Beyer e Pierre Hodgson, rodou todo o filme nos territórios em conflitos e teve as filmagens interrompidas todos os dias por estar sempre no meio de tiros e bombas, tendo ate que lidar com o fato de alguns membros da equipe de filmagem, alemães, não voltar mais depois de uma das interrupções após uma bomba explodir próximo a eles, outro ponto positivo do diretor é que ele mostrou o contraste entre as cidades envolvidas no filme, o luxo de Tel Aviv e a miséria da cidade palestina.
Este filme ganhador do Globo de Ouro 2006 por filme estrangeiro, não foi recebido como bons olhos em Israel tendo sido boicotado pelas principais redes de cinema no Estado Judeu, ficando limitado a passar nas salas de cinemas independentes, mesmo parte do marketing do filme ter sido pago por um fundo de artes do governo israelense e talvez não convença o conservador escalão hollywoodiano a lhe darem o Oscar, mas há indicação este ano já abrira portas importantes tanto ao competente diretor como ao assunto abordado no filme.
Um filme difícil, ainda mais porque o diretor só mostrou um lado do conflito, mas teve a maestria de se preocupar em mostrar o lado humano, assista a este belo filme e talvez você olhe de maneira diferente para este pedaço tão pequeno mais tão importante do mapa mundi e não caia na lavagem cerebral feita pelos americanos após o atentado de 11 de setembro, como por exemplo, a serie de TV “24 Horas” que embora seja bem feito só ajuda a aumentar o pânico dos americanos após o ocorrido em seu país.