terça-feira, 3 de junho de 2008

Estréias da Semana no Cinema Brasileiro (23/05)

Bella (2006)
Crítica e público são, na maioria das vezes, dois pólos opostos na hora de mostrar seus gostos artísticos. Filmes de arte, ou "cabeça", que são laureados em festivais e recebem verdadeiras constelações na mídia especializada poucas vezes têm um forte apelo popular. E o que o "povão" gosta e vai ver, muitas vezes é visto como clichê entre aqueles que se dizem cinéfilos. Os inúmeros festivais por onde Bella (2006) foi exibido poderiam credenciá-lo no grupo dos filmes de arte. Mas basta um olhar mais atento para ver que se tratam de festivais dedicados à cultural latina e seu único prêmio realmente importante é o de Escolha do Público no Festival de Toronto. Público, aliás, que vem enchendo o filme de comentários e votos positivos em sites e fóruns de cinema. Para quem vai ao cinema atrás de uma história envolvente e dramática, o primeiro longa-metragem do mexicano Alejandro Gomez Monteverde é mesmo de encher os olhos (principalmente de lágrimas). De cara somos apresentados a Jose (Eduardo Verástegui) em dois momentos bem distintos da sua vida. O primeiro, ainda bem jovem e feliz, no dia em que assinaria um contrato milionário com um time de futebol. Depois, cabeludo, barbudo e soturno, trabalhando como chef no restaurante mexicano do seu irmão mais velho. A tragédia que separa os dois e a busca de uma superação é que vão embalar os 91 minutos do filme.
Trailer de 'Bella'

Cléopatra (2008)
Cleópatra é uma figura histórica que ganhou existência mítica, perpetuada há dois milênios, em toda a civilização ocidental. Não por acaso é a personagem feminina que inspirou o maior número de filmes em toda a história do cinema. Permanece como mistura de rainha guerreira, mãe e cortesã que inquieta há dois milênios o imaginário popular e o erudito. No momento em que o cinema brasileiro tenta uma penetração no mercado internacional, através de personagens estrangeiros, tramas passadas em outros países, sobrevivências de ciclos imigratórios, Cleópatra procura esta globalização na evolução de um mito universal. Porém, de uma maneira brasileira de ser, ver e filmar. O mito de Cleópatra não é novidade nenhuma no cinema. Não é preciso muito esforço para rememorar Elizabeth Taylor, no monstruoso épico de 1963, esbanjando dinheiro e figurino em Hollywood. Mas o que acontece quando a rainha egípcia cai nas mãos de um cineasta pouco convencional como Júlio Bressane (Filme de Amor)? A coisa aí fica bem mais instigante e fora do normal. Se Liz Taylor tinha a elegância natural para viver uma rainha, lhe faltava o acento do mulherão que enlouqueceu uma coleção de romanos. Faltava a força e o humor da Pombajira de Alessandra Negrini, que na Cleópatra de Bressane invade a tela com seus trejeitos e afetações. Todas as cinematografias importantes, excetuadas as asiáticas, já trataram do tema. Esta Cleópatra rompe o confinamento temático que limita o cinema brasileiro à sua realidade regional, a uma aproximação pitoresca de si mesmo. E corresponde a uma visão valorizada, cosmopolita, de uma possível contribuição expressivamente nossa ao cinema mundial.
Trailer de 'Cleópatra'

Control (2007)
Control
(Control, 2007) conta os últimos anos da vida do vocalista da lendária banda Joy Division. O grupo surgiu da cena pós-punk formada no ano de 1977, em Manchester, Inglaterra, e acabou em 18 de Maio de 1980, com o suicídio de Curtis. Tinha como integrantes Bernard Sumner, Peter Hook e Stephen Morris. Após o término, os três integrantes remanescentes formaram o New Order. O Joy Division é considerado uma especie de divisor de águas no rock britânico. Influenciou e ainda influencia centenas de bandas pelo planeta. Foi um dos pioneiros da estética gótica por causa da forma depressiva e angustiante que Curtis cantava. Sua voz trêmula de barítono foi amplamente imitada. Percebe-se escutando o último disco do grupo um homem no limite de sua sanidade. O filme mostra que Curtis (Sam Riley) teve uma trajetória curta e intensa. Ficou famoso por seu talento de letrista e por suas performances épicas à frente da banda. Sofrendo com os ataques de epilepsia, sem saber como lidar com o seu talento e dividido entre o amor por sua mulher Debbie (Samantha Morton) e sua filha, e um caso extraconjugal com a jornalista belga Annik Honoré (Alexandra Maria Lara), se enforcou. O roteiro é baseado no livro Touching From the Distance de Deborah Curtis, viúva do cantor.
Trailer de 'Control'

Ensinando a Viver (2007)
Em “Ensinando a Viver”, David Gordon (John Cusack) é um escritor de ficção científica que ficou viúvo recentemente e resolve adotar Dennis (Bobby Coleman), um menino órfão que acredita ser um marciano em missão de exploração na Terra. Ignorando os sábios conselhos de sua irmã Liz (Joan Cusack ) sobre os perigos da paternidade, e o receio da diretora do orfanato, Sophie (Sophie Okonedo), David decide ser o pai do estranho garoto que afirma ser um alienígena. Mesmo com o apoio da amiga Harlee (Amanda Peet), por quem David está cada vez mais interessado, o aspirante a pai se vê completamente perdido. Para começar, David corre o risco de perder o prazo de publicação de seu próximo livro, o que está deixando seu já nervoso agente Jeff (Oliver Platt) bastante preocupado. E ainda há o assistente social, Lefkowitz (Richard Schiff), e seu Conselho, que têm sérias dúvidas sobre a capacidade de David de ser pai. Em meio a tudo isso, Dennis apresenta um comportamento bastante esquisito, e continua a insistir que veio do planeta vermelho. Uma série de acontecimentos inexplicáveis acaba por deixar David em dúvida sobre se a alegação do menino realmente não passa de imaginação. Mas, seja qual for a verdadeira origem desse menino notável, David se apega cada vez mais a ele e descobre o poder trans formador do amor paterno. Irmãos na telona e também na vida real John e Joan Cusack já se cruzaram diversas vezes nas películas, em produções diversas como “Uma Questão de Classe” (1983), “Gatinhas e Gatões” (1984), “AVolta Por Cima (1984), “Nos Bastidores da Notícia” (1987), “Digam O Que Quiserem” (1989), “Matador em Conflito” (1997) e “O Poder Vai Dançar” (1999).
Trailer de 'Ensinando a Viver'

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008)
A nova aventura começa no deserto em 1957 - o auge da Guerra Fria. Indy (Harrison Ford) e seu ajudante Mac (Ray Winstone) escaparam por pouco de um encontro com nefastos agentes soviéticos em um campo de pouso remoto. Agora, o Professor Jones voltou à sua casa na Universidade Marshall – apenas para descobrir que as coisas foram de mal a pior. Seu amigo e reitor da escola (Jim Broadbent) explica que as ações recentes de Indy o tornaram alvo de suspeita e que o governo está pressionando a universidade para que o demita. Ao deixar a cidade, Indiana conhece o rebelde jovem Mutt (Shia LaBeouf), que tem enorme desprezo pelo arqueólogo, mas também uma proposta: Se ele ajudar Mutt em uma missão com razões extremamente pessoais, Indy pode deparar-se com um dos maiores achados arqueológicos de todos os tempos: A Caveira de Cristal de Akator, um lendário objeto de fascinação, superstição e medo. Mas conforme Indy e Mutt partem para os cantos mais remotos do Peru - terra de tumbas ancestrais, exploradores esquecidos e uma suposta cidade de ouro - eles rapidamente percebem que não estão sozinhos em sua jornada. Agentes soviéticos também estão em busca do artefato, entre eles a fria e devastadoramente bela Irina Spalko (Cate Blanchett), cujo esquadrão de elite está cruzando o globo atrás da Caveira de Cristal, que eles acreditam que ajudará o império soviético a dominar o mundo. Indy e Mutt precisam encontrar uma maneira de enganar os soviéticos, seguir a impenetrável trilha de mistério, enfrentar inimigos e amigos de moral questionável e, acima de tudo, impedir que a poderosa Caveira de Cristal, caia nas mãos erradas.
Trailer de 'Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal'

Luz Silenciosa (2007)
A exemplo do seu conterrâneo Alejandro González Iñárritu, o cineasta mexicano Carlos Reygadas não é uma unanimidade entre os críticos. Iñárritu endeusa Reygadas, que já coleciona alguns prêmios em festivais, mas muita gente torce o nariz para seus três filmes: Japón (2002), Batalha no Céu (2005) e Luz Silenciosa (2007). Com a estréia deste último, o primeiro Reygadas a sair comercialmente no Brasil, finalmente o público do circuito vai poder tirar suas próprias conclusões. Ao contrário de Japón e Batalha no Céu, não há provocações ou escatologias em Luz Silenciosa. Na verdade, no seu terceiro filme, Reygadas reduz consideravelmente o esforço para se conectar com o espectador. Desde o momento em que o filme abre com um nascer do sol quase em tempo real, passando pelos primeiros close-ups por rostos sem expressão, é do público que se exige interesse e atenção para imergir na experiência. Acompanhamos o café da manhã de uma família de feições européias que fala um dialeto entre o alemão e o holandês. A exposição é mínima. A única certeza que depreendemos é que são religiosos, pela longa prece em silêncio antes da refeição, e que o pai da família sofre. Sofre só, na ausência dos muitos filhos, mas com a solidariedade de sua esposa.
Trailer de 'Luz Silenciosa'