quinta-feira, 30 de outubro de 2008

'Estômago' ganha refilmagem e série de TV em inglês


Refilmagens de longas de sucesso ou tramas marcantes são produtos cada vez mais comuns no mercado internacional. Mas a idéia de refazer o próprio filme em língua e situação estrangeiras ainda assusta o brasileiro Marcos Jorge, que acaba de acertar com o jamaicano criado na Inglaterra Stephen Hopkins, produtor do seriado americano 24 horas, uma versão em inglês de Estômago, que deu a João Miguel o prêmio de Melhor Ator do Festival do Rio do ano passado.

O acordo também prevê a realização de uma série de TV de 12 episódios desenvolvida em torno do protagonista da trama, um sujeito do interior que chega à cidade grande em busca de uma vida melhor e se torna um grande cozinheiro. Hopkins vai dirigir o piloto e Jorge poderá assumir alguns dos capítulos do programa.

"Nenhum diretor imagina que algum dia vá refazer um filme que ele mesmo dirigiu. O que posso dizer, sem pensar muito, é que não vai ser a mesma obra. As situações de Estômago terão de ser adaptadas completamente para que continuem fazendo sentido numa outra cultura, com um elenco estrangeiro", explica, por telefone, o cineasta curitibano, de 43 anos, de Valladolid, na Espanha, onde acompanha a participação de seu filme no festival da cidade.

"Confesso que é uma situação que me estimula, mas também me preocupa um pouco: conheço vários exemplos de remakes mal-sucedidos. Mas a ocasião é especial e não devo desperdiçá-la", completa.

Orçado em R$ 2 milhões, Estômago estreou no Festival do Rio de 2007, onde foi eleito o Melhor Filme pelo júri popular. Por causa da repercussão na maratona carioca, teve seu lançamento no circuito antecipado para janeiro deste ano, onde foi visto por cerca de 100 mil espectadores.

Resultado de uma co-produção com a Itália, o longa-metragem já foi vendido para 20 países - só na Bélgica e na Holanda, a soma do público do filme chega a 75 mil. Hopkins conheceu o filme de Jorge ainda no ano passado, durante uma temporada de férias e de prospecção de trabalho no Brasil.

"Quem fez as apresentações foi o Sergio Sá Leitão, hoje diretor da Ancine (Agência Nacional de Cinema). Contei que tinha um filme muito especial, que era Estômago. Mandei para ele uma cópia legendada em DVD na esperança de um contato para venda do filme nos Estados Unidos. Hopkins adorou, disse que era o melhor que tinha visto entre os brasileiros, ficou realmente entusiasmado. Nos vimos algumas vezes depois disso e ele sempre ele comentava que Estômago não lhe saía da cabeça. E daí apareceu a proposta do remake", conta Bruno Weiner, da Dowtown Filmes, distribuidor brasileiro da produção.

A refilmagem será gerida pela associação entre a brasileira Zencrane Filmes e a Greengo Productions, a companhia de Hopkins. Neste momento, o produtor inglês busca nos Estados Unidos e na Inglaterra investidores para o projeto, que tem um piso inicial de US$ 20 milhões.

"Essa base pode chegar a US$ 30 milhões. Tudo depende do peso dos atores que ele conseguir para o filme", avisa Cláudia da Natividade, mulher de Marcos Jorge e sócia dela na Zencrane Filmes.

- Estou descobrindo aos poucos como funciona o mercado americano, que é menos burocratizado do que o nosso, mas, no entanto, a figura dos advogados e dos agentes dos atores é muito forte.

Na versão original, Estômago fala de Raimundo Nonato, nordestino que se muda para Curitiba e tenta ganhar a vida fazendo quitutes para um botequim.

Por meio de recuos e avanços no tempo, acompanha dois momentos do personagem: o passado, com os primeiros passos na capital do Paraná, e o presente, em que Nonato está preso, por causa de um crime só revelado no decorrer da trama. Já se sabe que na adaptação estrangeira ele se chamará Harvey e será sulista.

"Estamos fazendo pesquisas sobre a situação carcerária americana. Queremos rodar em Nova York, por causa da cultura gastronômica. Sabemos que Harvey não poderá ficar cozinhando numa cela, como na versão brasileira. Então, o colocaremos na cozinha da prisão, tocada pelos prisioneiros". relata Marcos Jorge.

fonte: JB online